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Foto do escritorTamires Reis

Sobre preparação física no Festival de Dança de Joinville


Tive a grande honra de poder dançar 4x no meio do festival, então consegui experimentar não só 4 palcos diferentes, como momentos corporais diferentes (manhã, tarde e fim da tarde) e também observar a preparação dos demais bailarinos antes dos palcos.


E confesso que fiquei preocupada...


Já tinha dimensão que os bailarinos não sabiam muito (ou nada) sobre aquecimento pré palco, mas achei que ficava apenas no âmbito de que eles não tinham noção de exercícios de mobilidade e tudo mais, porém me preocupou ver milhares de bailarinos em pleno ato de aquecimento fazendo movimentos que sempre falo aqui, os benditos alongamentos estáticos que não aquecem em nada o corpo.


Não é crime alongar, porém me preocupa ouvir bailarinas pequenas ao lado de suas profes, fazendo “detirés” (famoso puxa a perna a la second) como forma de se preparar pro palco, fazendo com que a musculatura se estique antes mesmo de ser irrigada da forma correta.


Pior ainda, foi ouvir várias vezes, que os bailarinos acordaram destruídos após 1 apresentação do palco aberto...


Gente... A ideia e conceito de preparação física, é justamente deixar o corpo pronto para essas rotinas sem que haja prejuízo físico nas demais apresentações.

Imagina quem dança todos os dias mais de uma coreografia, como que acorda na ultima apresentação?


E tudo que era pra ser prazeroso, acaba caindo na cilada do “no pain no gain”, naquela filosofia “a dor faz parte da arte”, mas será mesmo que vale a pena cair nessa sabendo que tem formas mais eficientes?


Eu, mesmo com meus altos e baixos de gripe, Cov1d e pausas, fiquei extremamente satisfeita de notar que meus treinos não me deixaram nem com a dorzinha de lombar de tanto andar.


Consegui caminhar 12mil passos diariamente sem deixar de aproveitar o festival e sem que uma dor afetasse a outra apresentação seguinte.


E não foi fazendo treinos malucos, jejum, ensaios mais pesados com 1 mês da viagem. Foi ao longo de meses, num processo continuo e respeitoso com meu corpo, com minha técnica e minha rotina também, já que não vivo dançando mais, porém vivo mexendo meu corpo.


Joinville pra mim foi um desafio físico e mental também, pois após 9 anos sem participar de um festival, poder participar no maior festival do mundo, estando “acima dos padrões corporais da dança”, ensaiando apenas 1x na semana e executando tudo com controle, força, leveza mental e física, é o que mostra o poder da preparação física, o poder do treinamento complementar de força fora das aulas.


Quando falo e insisto sobre preparação física, não é só sobre ficar forte e com técnica boa nas apresentações, mas é também sobre RECUPERAÇÃO MUSCULAR eficiente, é acordar no dia seguinte e saber que seu corpo pode enfrentar outro dia pesado, sem dores e sem medo de machucar por fadiga excessiva.


É sobre saber que aos 30 anos, é possível viver a qualidade de um festival nesse porte, não se igualando aos palcos competitivos, mas sabendo que um bom trabalho pode ser feito independente do nível, mas com um corpo estruturado e forte.


10 mil pessoas passaram por Joinville, mais de 4 mil coreografias inscritas... Se desses 10mil bailarinos, metade já conhecesse o treino complementar EFETIVO (não o que ele pega no youtube ou o que faz no MEIO da aula de ballet com um professor que nem é personal, ou o que pega o treino do amiguinho do lado), o cenário da dança já seria outro nesse país e quem sabe poderia ser mais valorizado inclusive.


Mas é aquilo né... Há muito chão pela frente, até porque fui obrigada a ouvir de uma escola referência que “sempre foi assim e sempre funcionou”, mas o que sempre funcionou não quer dizer que precisa ser repetido pro resto da existência quando se sabe que tudo evolui.


Se um carro movido a cavalo sempre funcionou, porque trocar por um carro? Porque se a dança sempre funcionou via charrete, porque evoluir para um carro elétrico???


Mas sigo aqui, criando, estudando e aplicando estudos novos pra poder começar a explorar outros âmbitos dentro da dança com a finalidade de tornar a carreira do bailarino (seja ele profissional, seja o que faz por hobbie), um caminho menos tortuoso e mais funcional e eficiente.


Nos vemos ano que vem!!


Ass: Tamires Reis

Profissional de Educação Física - Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

CREF: 154495- G/SP / DRT: 34.021

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