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Foto do escritorTamires Reis

Relato pessoal sobre sapatilhas de ponta - Experiência de uma bailarina profissional e adulta.


Se tem bailarina nesse mundo que nunca sonhou em usar sapatilha de ponta, está sonhando errado, porque nunca vi na vida que


m não achasse incrível e super característico. E claro que comigo não seria diferente.


Desde que me conheço por gente, minha irmã me falava que eu queria ser “baigaguina” (pq tinha língua presa e o sonho da sapatilha de ponta sempre foi presente.


Comecei a dançar, era a mais gordinha da turma, então já veio a enxurrada de julgamento, cobrança e medo de como seria o meu processo.


Comecei com as pontas, sem mui


to recurso, sem muitas opções de proteção e conforto, mas com a sede de chegar um dia e dançar de tutu e nas pontas.


A primeira coreografia veio, foi o sofrimento... Doía tudo, quase não conseguia fazer nada e na minha cabeça eu pensava, imagina é um processo...

Os solos foram surgindo e eu fui ficando pra trás...

As minhas colegas iam trocando as sapatilhas e eu fui ficando pra trás...


Achei outros recursos, novas sapatilhas, novas ponteiras, mas a aula sempre era um tormento: não girava – tinha medo -, não fazia releve de 1 pra 1 – faltava força ou a sapatilha machucada muito -, tudo era lento, sofrido e feito muitas vezes no susto porque não queria deixar de fazer o exercício.


Até que a formatura foi chegando, via a galera evoluindo. Na minha cabeça eu pensava “imagina, ta tudo bem, elas que tem mais facilidade”, mas lá dentro, do fundo do coração, a frustração batia no estômago de estar chegando na idade limite e não ter dançado uma única variação.


Mas a vida foi legal comigo e me “presenteou” com a Fada Vermelha, já que a solista não conseguiu dançar... UFA! Não sou tão ruim assim, dancei 1 variação pelo menos.


Só que no fundo, a vozinha sempre falava que era inútil e que a sapatilha de ponta nunca seria pra mim.



Chegou o ano que conseguimos um festival fora do estado e a professora ia remontar a minha coreografia predileta da vida!!! “VAI TER AUDIÇÃO, ESTUDEM!”


Eu não lembro de ter ensaiado tanto uma coreografia quanto aquela... Eu sabia cada respiro, cada toque de cada instrumento. Ensaiei, ensaiei, ensaiei...


“Você não está preparada. Não dessa vez... Fulana, você que vai dançar no festival” E ali eu praticamente decretei que nunca mais teria oportunidade de dançar aquela coreografia ou qualquer outra variação. Ali eu vi que a sapatilha de ponta havia me vencido...


Todas as demais coreografias eu apenas cumpria o que foi pedido, porque se nem com ensaios eu conseguiria dançar aquela Tarantela, quem diria dançar uma variação de repertório com tutu e tudo mais.


E assim segui... Parei de dançar, larguei de vez as pontas e 2020 chegou com a pandemia e o meu retorno a meia ponta pelo menos.


Descobri outro mundo!!!


Muitas sapatilhas novas, dedeiras, boxes, caixas, gáspeas, ponteiras de X, Y e Z e ali vi uma pequena fresta de luz se reacendendo para que pelo menos eu pudesse entender se o problema era realmente eu, a sapatilha ou aquele momento na minha escola.


Fiz o fitting, descobri outras sapatilhas, descobri outras profissionais excelentes (obrigada Ma Ballet e Louise Lins <3) e hoje, sinceramente, estou num momento de autoconhecimento muito grande.


Com o crescimento da proposta de ballet adulto de qualidade, eu realmente espero realizar o meu sonho de dançar nas pontas com tutu e tudo que há de direito.


Eu sei que tive uma carreira privilegiada, que tive a oportunidade de viver muita coisa da dança, mas não consigo me sentir completa. É como se eu não conseguisse me sentir bailarina. Ou simplesmente não me RECONHEÇO como bailarina.


O mais próximo que me senti desse processo, foi no contemporâneo que ali consegui conhecer e reconhecer o meu corpo como ele é, mas algo dentro de mim ainda quer muito conhecer o ballet em si.


No ultimo dia 09 de Julho, marquei como o dia do meu retorno. Dia que realmente vesti minha nova sapatilha, pensada e comprada para o meu modelo de pé e numa aula que foi bem significativa. Pois foi uma aula de repertório e me senti estranha...


Estranha porque depois de mais de 8 anos sem subir pra fazer uma aula decente, eu consegui fazer tour piques subindo mesmo nas pontas, segurando costas, consegui fazer piqués com joelhos esticados e o principal... Sem medo! Obrigada pela aula Paula Sanchez!

Essa é a minha Aurora da Só Dança escolhida pelo Fitting da Ma Ballet

Termino esse texto com olhos marejados e espero realmente que nesse novo ciclo como bailarina adulta, que eu possa realizar os meus sonhos mais profundos e que consiga minimamente dançar algo de tutu e pontas pra alimentar o meu sonho infantil que não morreu... Ele apenas foi apagado por frustrações da vida.


E se tiver alguma bailarina adulta lendo, espero que esse texto te motive a não desistir, pq o problema não é você: pode ser a ponta, pode ser falta de preparo físico, como pode ser que vc simplesmente não tenha se adaptado a aula, mas não perca a fé e a vontade de trabalhar pra poder realizar o seu sonho.




Um beijo para vocês.


Tamires Reis

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