Em 2019, o portal Uol publicou uma série de relatos de vários atletas que contavam basicamente o lado negro de seus esportes.
E um dos relatos, da ginasta Angelica Kvieczynski já havia me chamado a atenção por ter sido cruel e chocante e aproximado demais com os relatos de abuso moral dentro do mundo da dança e que é bastante abordado dentro do mundo cinematográfico também.
Só que curiosamente, no dia 20/12/2020 (curiosamente 1 semana depois da estreia da série “O preço da perfeição” na Netflix) o Globo Esporte resolveu levantar este assunto mais uma vez, com a confirmação não só da Angelica, mas também de outras 6 ginastas que resolveram contar suas histórias e mais outras 27 atletas que confirmaram, mas não quiseram se identificar.
A matéria realizada em 2019 você pode encontrar AQUI e a entrevista com as 7 ginastas, você pode assistir por AQUI
E olhando os relatos e confissões, me peguei pensando no quanto o mundo da dança ainda vive muito disso (e foi confirmado com os relatos das bailarinas do Miami City Ballet que viralizou na web em meados de 2020) porém, pouco é trabalhado e denunciado dentro desse mundo – como podemos ver na série da Netflix.
Achei curiosa a fala de uma das especialistas da matéria comentar sobre o quanto a “cultura” europeia acaba por influenciar os costumes e formas de ministrar a técnica do esporte a todo custo.
Na entrevista umas das meninas – que hoje é nutricionista em decorrência do sofrimento que teve no tempo de atleta -, comenta o fato da exigência de um corpo russo dentro da ginastica sendo que a brasileira possui características físicas e etnológicas que são incapazes de mudar e no quanto ela foi afetada e abusada de forma moral ao ser chamada de gorda e de burra.
Me pergunto até quando teremos que deixar estas questões acontecerem de forma maquiada, sem denunciar de forma correta as entidades que podem lidar com isso. Porque estes bailarinos ainda não têm coragem de denunciar a conselhos de ética, policia e serviço social? O que precisamos fazer para que mais bailarinas (e bailarinos também) possam ter a coragem e o apoio necessário sobre esse tipo de comportamento que reflete único e diretamente no caráter e personalidade da pequena criança que só queria dançar?
Segundo a matéria, as consequências destas ações (desidratação severa, falta de alimentação, uso de laxantes, assedio moral e etc) desencadeia, além de problemas psicológico e nutricionais, um dos grandes problemas que essas ginastas/bailarinas podem carregar, são os problemas hormonais como amenorreia (falta de menstruação), obesidade (pelo destreino e metabolismo desregulado em função do período extenso em jejum) e metabólicos em geral.
A perfeição não existe nem nunca vai existir. Então é preciso entender o que precisar fazer para viver uma arte (esporte) que preencha nosso coração com amor e entrega pelo amor, não simplesmente movido pela dor e entrega a qualquer custo.
Pelo menos, essa é minha opinião como bailarina e principalmente como profissional da saúde que sou... Saúde é fundamental e universal em qualquer instância, mesmo que você seja atleta de alto rendimento.
Ass: Tamires Reis
Profissional de Educação Física - Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
CREF: 154495- G/SP / DRT: 34.021
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